As reações (quimioterapia) mais uma vez, foram parecidíssimas com as duas primeiras sessões - moleza, cansaço, tontura, mal estar, enjoo, sono, muito sono, chatice (fico chata nos primeiros dias), tristeza, taquicardia... só que desta vez senti umas sensações novas e estranhas como se meu corpo estivesse flutuando ou se eu estivesse pisando em nuvens... achei que fosse loucura, mas conversando com uma colega na meditação, descobri que estas sensações são normais... outras vezes, senti também uma dormência no corpo todo. De todos esses dias, desde a quinta-feira passada (dia da quimio), só hoje estou me sentindo muuuito bem. Até ontem tive altos e baixos. Tem hora que está tudo bem, mas de repente do nada, quero deitar e dormir... muito doido tudo isso. Notei também que engordei, estou inchada (por causa dos corticóides injetados na quimio ocorre uma retenção de líquidos). Pela primeira vez estou me sentindo gorda. Dá fome de meia em meia hora, não sei o que fazer e logo depois da comilança, lá vem a fome outra vez. A barriga parece estar vazia a toda hora. Os cabelos (os poucos fios que resistiram), não sei se ainda estão caindo ou se estão crescendo, de vez em quando aparece um fiozinho encravado... deve ser assim, cai e cresce.
Anteontem, fui em uma consulta com Dr. Bruno (Masto). Conversamos bastante sobre o que vai acontecer daqui pra frente. Ele é a favor de daqui um tempo, tirar a outra mama. Há 50% de chances de dar na mama que restou. Ele prefere não arriscar. Mas tem médico que não concorda. Quando chegar a hora, farei várias consultas para ter certeza do melhor a fazer. Mas já digo que prefiro. Não quero passar por tudo de novo. Se há um risco, vamos eliminá-lo logo. Minha mãe concorda plenamente. Falamos também sobre as chances de reincidência. Conforme forem passando os anos, menor o risco de uma reincidência. O período mais crítico parece ser entre 3 e 5 anos. O que podemos fazer? Só melhorar o estilo de vida... alimentação, meditação, atividade física, fora cigarro, fora álcool.. claro, se eu fizer tudo isso estará perfeito, mas ninguém é perfeito... a única coisa que posso afirmar é que vou tentar e quero mudar muita coisa. Mais uma vez o Dr. Bruno lembrou - bendita Mastite! - se não fosse ela... aí paro mais uma vez para agradecer! Obrigada pela minha vida meu Deus! E falando em agradecimentos, mais uma vez, minha mãe escreveu. Ela acordou estes dias, com uma vontade de agradecer e o fez:
Família e amigos: um presente de Deus
No decorrer da vida, desde o ventre e ao darmos o primeiro respiro, nos relacionamos. Este relacionamento desde os primórdios da existência é que nos favorece com sensações de paz, aconchego, ternura, carinho, sossego. Nosso equilíbrio emocional é auxiliado por este contato tão fundamental à existência humana. Deus, em sua sabedoria suprema, nos proporciona convivências durante a nossa vida que certamente não ocorrem nem por acaso e nem em vão.
Quantas vezes nos sentimos muito bem ao lado de uma pessoa, e de outra, às vezes, temos dificuldade de aproximação? Que sentido teria estas situações?
Creio que Deus nestas situações pretende nos ensinar algo sobre a construção do verdadeiro amor e do desafio de permanecer nele.
O grande desafio é o de superar as dificuldades exercitando o perdão, o ouvir, o compreender, a gratidão, o sentir-se no lugar do outro para aceitar melhor seus sentimentos e limitações e ajudar a crescer, a evoluir...
Esta é a oportunidade que Deus nos dá colocando-nos neste imenso laboratório que é a vida para evoluirmos aprendendo sobre o amor incondicional – onde amamos e não pedimos nada em troca. Nos beneficiando da sensação de doar somente, e se sentir feliz, realizado com isso.
Na nossa condição humana temos dificuldade de exercer este amor por não entendermos bem esta dimensão do SER e não do TER.
Você é meu, não divido com ninguém...
Isto me pertence, não use...
É o meu direito... é o meu espaço...
Nos apegamos a coisas, objetos, sentimentos que nos fazem sofrer por nos afastarmos da dimensão espiritual, a nossa dimensão eterna, que vai além do corpo.
E na trilha da vida permanecemos no desafio de buscá-la e trazê-la à tona, superando obstáculos, para amar verdadeiramente, integralmente.
Nestes momentos pensamos o quanto é bom o aconchego da família, dos amigos, na alegria, nos festejos, o estar junto.
E é nos momentos de dor que realmente exercitamos o verdadeiro amor, agradecendo as vitórias, as oportunidades, porque nestes momentos é que paramos para refletir e aprender. O sofrimento é uma misericórdia de Deus nos possibilitando evoluir. Assim podemos redimensionar o amor e perceber o quanto é bom o abraço, a presença, o olhar solidário, o estar junto novamente.
Deus, como diz a cantora Amelinha em uma de suas músicas: “Fez nascer a eternidade num momento de carinho”, e é com esta crença que agradeço a Deus todos os laços constituídos de familiares e amigos para a eternidade, porque, creio, são para além desta vida, com os encontros, desencontros, diversidades, adversidades e oportunidades de exercitar a gratidão e os desapegos (como diz a Amanda em momentos de muita luz) e superação. Obrigada a todos por tudo de bom que nos proporcionam com seu amor e carinho. Agradeço por mim, pelo Doba e por meus filhos.
Edna Mara