segunda-feira, 23 de abril de 2018

Renascendo na mesma vida



Ando sumida do mundo. Resolvi me esconder um pouco para me focar no processo que estou passando que é um pouco delicado. Só ando saindo do meu refúgio particular apenas para ir aos médicos, fazer exames, medicação ou para resolver algo inadiável. Havia comentado no último post que teria que ser submetida à outra mastectomia (pois já havia feito uma mastectomia na mama direita em 2009, na mesma ocasião colocado expansor, e depois reconstruído com prótese em 2011) e que desta vez seria sem direito a reconstrução imediata, conforme havia sugerido a equipe multidisciplinar do médico que fui em São Paulo. Porém, após várias idas aos consultórios dos meus médicos aqui em Brasília – mastologistas, oncologista, cirurgião plástico e radioterapeuta – e muitas conversas entre eles depois, conseguimos chegar a uma conclusão sobre a cirurgia, ou melhor, as cirurgias que terei que fazer. A boa notícia é que não precisarei ficar mais sem mama, não serei mais uma “despeitada”, pois meus médicos lindos e brilhantes encontraram uma solução para o meu caso. A verdade é que meu principal tratamento agora, além da hormonioterapia que eu já iniciei novo protocolo, será a cirurgia de mastectomia radical. Vou explicar melhor, pois existem diferentes tipos de mastectomia.

Em 2009 eu fui submetida à mastectomia radical modificada – que é a retirada de toda a glândula mamária e parte da pele, incluindo aréola e mamilo, além do esvaziamento axilar. Nesta técnica pude colocar um expansor na mama e após chegar ao nível de expansão que queríamos, parei tudo para fazer a radioterapia (28 sessões) e somente após alguns meses do fim das rádios é que pude realizar finalmente em 2011 a reconstrução definitiva com prótese nas duas mamas.

Agora em 2018, serei submetida à mastectomia radical, que além do que já havia retirado antes (glândula mamária, aréola, mamilo e linfonodos axilares), nesta também são retiradas a pele e os dois músculos peitorais (que ficam abaixo da glândula mamária). Hoje em dia esta técnica é raramente indicada por ser bastante radical, mas no meu caso, só restou esta opção, já que o tumor insiste em aparecer na pele e no músculo.

O problema é que como eu já fiz radioterapia no tecido que irá para cirurgia, eu correria um grande risco da cicatriz cirúrgica não fechar e deixar uma ferida aberta, pois o tecido irradiado não possui mais elasticidade, é endurecido, como um tecido morto. Então eu preciso ter tecido e músculo doadores para cobrir a área da cirurgia devido à extensão do que terá que ser retirado para eu ficar livre de vez desse maldito câncer de mama. A solução que meu lindo e competente médico cirurgião plástico encontrou foi a de colocar um expansor de pele no meu músculo grande dorsal para que posteriormente este possa servir como retalho para a minha reconstrução mamária.

A reconstrução mamária imediata será possível, pois o radioterapeuta liberou após avaliar que se eu tiver que fazer radioterapia novamente, esta seria diferente da primeira que era mais convencional. Desta vez seria uma radioterapia por feixe de elétrons, que parece focar mais no alvo a ser tratado. Porém, como a mastectomia radical será meu principal tratamento, talvez a radioterapia seja descartada. Tudo dependerá do resultado da biópsia da cirurgia.

Então, voltando ao expansor no grande dorsal, fiz a cirurgia para colocá-lo no dia 28 de fevereiro. Foi anestesia geral, mas saí no mesmo dia com um “peito nas costas”. Desde então ando tentando passar esta fase sem enlouquecer ou cair em depressão. Pra falar a verdade até ando me sentindo bem ultimamente. Acho que sofri tudo antes de fazer essa cirurgia e principalmente pelo fato de ter sido sugerida a remoção da mama sem reconstrução imediata. Sofri muito quando o médico me disse que eu teria que ficar sem mama. Sofri mesmo. Doeu lá no fundo. Como eu ia viver sem mama? Como ia vestir minha roupas, me sentir sensual, me olhar no espelho? Como eu ia conseguir ser feliz me sentindo feia e estranha sem mama? Como ia ser meu casamento a partir deste dia? Como ia ser a partir daí? Foram várias as questões. Muitas pessoas podem até pensar que esses pensamentos eram vazios que o que importa é a minha vida. Sim! A minha vida é importantíssima. Mas quero ter seios, cabelos, quero me olhar no espelho e me sentir mulher, me sentir bonita e para isso eu preciso SIM de uma mama. Fico admirada quando vejo mulheres fortes vivendo sem suas mamas e se adaptando a essa nova realidade de suas vidas. Já vi mulheres até fazendo opção de não reconstruir mais. Mas cada uma é cada uma. Eu quero ter uma mama se eu puder.

Sofri à toa. Pois depois de várias análises eu poderia ter uma mama novamente. Fiquei feliz demais, mas depois sofri de novo pelo fato de ter que colocar um peito nas costas para que eu pudesse ter uma mama de volta. Sofri muito de novo. O mundo todo ficou escuro durante essa fase. Tudo ficou difícil. Eu dei uma surtada, marido também surtou. Além de tudo também estava convivendo com outras dificuldades com minha família. Todos surtamos um pouco. Nosso último ano foi quase todo indo a médicos. Mas sei que juntos, como sempre fomos, vamos lutar por toda e qualquer barreira que vier como sempre fizemos e superamos juntos.

Hoje, o mundo começou a clarear novamente. Apesar de estar passando ainda pela fase mais incômoda da minha vida com esse expansor nas costas. Toda semana vou ao médico fazer a expansão e até agora já enchemos 590 ml. Agora já tenho um “bumbum” nas costas...rs. Dói muito no primeiro e no segundo dia, tomo alguns analgésicos para ajudar e fico quietinha. Lembra a dor da expansão da mama. Aperta as costelas, comprime o tórax, para respirar dói e para dormir é muito incômodo. A ideia é chegar a 1000 ml de expansão – emoji com carinha de espanto neste momento! – Sim! Vamos ter que chegar a essa quantidade para ter pele suficiente para minha mastologista trabalhar a vontade e retirar o danado todo de vez. Depois que chegarmos a esse nível, poderemos realizar a minha 9ª cirurgia relacionada ao câncer de mama, da qual farei a reconstrução com a pele e músculo do grande dorsal na mama direita. Neste caso, já poderemos colocar também a prótese. Prometo postar uma foto aqui do expansor nas costas após finalizar esse processo. Pelas minhas contas essa cirurgia será realizada no fim do mês de junho, coincidindo mais uma vez com a proximidade do meu aniversário, data em que tudo começou há quase 9 anos atrás e que recomeçou pela terceira vez na mesma época ano passado, quando fiz a mamotomia que me indicou a segunda recidiva. A 10ª cirurgia será a mastectomia profilática da mama esquerda, que espero fazer assim que puder. Amanhã tenho PET-CT para avaliar o corpinho e depois de amanhã será a vez de encher mais um pouco o expansor.

Por esses motivos, ando isolada do mundo, quietinha no meu refúgio me resguardando. Comecei a tomar medicação para auxiliar a depressão que vem com a menopausa precoce, e tudo passou a ficar mais tranquilo. Adoro o Pristiq (succinato de desvenlafaxina monoidratado), meu melhor amigo no momento. Parei de tentar entender o que passei e ainda estou passando com relação ao câncer de mama que invadiu e mudou alguns rumos da minha vida. Resolvi apenas viver o que tiver para viver. Fazer o que tiver que ser feito. Se a gente tentar entender e ficar pensando muito no assunto, a gente sofre. Não quero mais sofrer. Quero viver. Terei que conviver com a dor, mas não quero mais sofrer. Tudo tem a dimensão que a gente dá. E sabemos que tudo passa. Dói, mas passa. Mais uma vez tenho que ser apenas grata ao Universo. Pois tenho tudo que preciso. O que não tenho ainda vou ter tempo de correr atrás, pois estou viva, e descobri que podemos reviver várias vezes na mesma vida ❤