Pois é! 5 anos depois, uma
recidiva.
Vou contar tudo...
Vou contar tudo...
Na verdade, notei um carocinho
pequenino, palpável, bastante firme localizado na mama mastectomizada em meados
de março. Para ser mais exata, o nódulo estava bem no limite da cirurgia de mastectomia. Fizemos uma ecografia que sugeriu um lipoma localizado às 10 horas na
região subcutânea da mama direita. O lipoma seria um acúmulo de tecido adiposo,
caracterizado como uma alteração benigna, comum em áreas que sofreram com
cirurgias. Três meses depois, partimos para a ressonância das mamas. Nada foi
visto. Nem ao menos o carocinho que eu sentia quando apalpava a área. Por isso
a importância de se fazer vários exames diferentes de imagens, pois o que um
não vê, o outro pode ver. E ele ficou lá até setembro, quando notamos um
pequeno crescimento e fomos tirar a prova com mais uma ecografia, juntamente
com a mamografia. Na primeira, BI-RADS US 4B, e na segunda, BI-RADS US 4C, ou
seja, os dois com suspeita de malignidade. Foi difícil detectá-lo na
mamografia, mas depois de muita “manobra” conseguimos achá-lo e ver que
realmente havia modificado de tamanho.
Fizemos a excisão cirúrgica no dia
15 de outubro, com anestesia local e sedativo, saí no mesmo dia. No outro dia,
meu maridinho também foi submetido a uma cirurgia no joelho esquerdo da qual
teve que reconstruir o ligamento cruzado anterior, fazer uma artroscopia no
menisco e ainda uma raspagem na cartilagem. Em casa era um ajudando o outro. Eu
não podia mexer o braço e ele a perna..rs.
Alguns dias depois minha mastologista
me ligou me contando sobre o diagnóstico. O que eu temia estava acontecendo:
uma recidiva. O anatomopatológico indicou Carcinoma
ductal infiltrante de alto grau (grau 3 de nottingham). Fiquei meio absorta
por alguns segundos e logo desabei para o meu marido que estava olhando pra mim
enquanto eu falava com ela ao telefone. O susto passou logo. Depois veio um
medo. Medo do que estava por vir, do incerto, de metástase, de sei lá o quê, de
estar acontecendo de novo, da morte... sim! Pela primeira vez senti um frio na
barriga em pensar que é assim que essa doença faz. Ela nos pega sempre
“desprevenidos” (claro! Ninguém está preparado nunca. Nem para um primeiro e
nem para um segundo, terceiro, quarto diagnósticos...), surge em algum lugar
dentro do seu corpo, depois vai se espalhando e um dia ele (o corpo) não
agüenta. Aí você deixa para trás sonhos, amores, saudades, vazios. Dessa vez
senti este medo. Pois isso quer dizer que existe um monstrinho pronto para
explodir dentro de mim, ou seja, essa predisposição genética a desenvolver o
câncer existe, de fato, em mim.
Sempre me
preocupei muito com a mama esquerda, a mama sadia, pois vira e mexe aparece
algo suspeito por lá. Porém, o bichinho estava escondido era na direita mesmo. A
recidiva foi local, surgiu no mesmo local de origem. A mama mastectomizada
nunca é 100% removida e algumas células podem ter sido liberadas no tumor
primário.
Na oncologista, conversamos sobre
o tratamento. Da primeira vez, meu tumor foi classificado como – triplo
negativo (ou basal-símile) – tipo de tumor que é normalmente agressivo, não é
receptor de estrogênio e de progesterona, e negativo a proteína HER2. Por este
motivo é um tipo de tumor que não se conhece bem, não se sabe ao certo como ele
agirá e como responderá aos tratamentos. Desta vez, as características do novo
tumor eram diferentes. Deu positivo para os receptores hormonais, sendo neste caso, considerado o subtipo molecular – luminal B.
A partir desses dados pode-se
começar definir um tratamento, porém, por diversos motivos, a quimioterapia
ainda não estava definida no meu tratamento e por recomendação médica, optamos
por fazer um teste chamado ONCOTYPE DX. Este teste de expressão gênica é
realizado somente nos Estados Unidos (o material é enviado ao laboratório por
meio de representantes aqui no Brasil) e consegue avaliar 21 genes relacionados
ao crescimento e proliferação dos tumores de mama. Ele é utilizado
principalmente para orientar a tomada de decisão em relação ao tratamento
quimioterápico, além de avaliar a probabilidade de recidiva em aproximadamente dez
anos. Demoramos um pouco para levantar a grana ($ 4.610,00 – cerca de R$
12.000,00) para realizar o teste, que com ajuda da minha família (tias, tios,
primos e primas – que me fizeram uma surpresa arrecadando entre eles a metade
do valor) foi bem mais rápido. Mas o que demorou mesmo foi a burocracia para se
fazer uma transferência bancária internacional... aff...
O resultado do meu teste não foi
dos melhores. Ele revelou que possuo 37% de risco de recidiva e ainda estou
incluída no grupo de alto risco. A boa notícia é que o teste mostra um bom
prognóstico após o tratamento de quimioterapia associado ao uso do tamoxifeno (hormonioterapia),
do qual essa taxa cai para cerca de 10%.
Já iniciei os ciclos de
quimioterapia, até o momento já fiz três sessões e já temos uma quarta marcada
(19/02/15). No meio disso tudo ainda tive que travar uma pequena batalha
judicial com meu plano de saúde (SulAmérica – falo mesmo!) que por meio de uma
liminar consegui continuar o tratamento recomendado pela médica. Absurdo!
Tentaram cancelar parcialmente meus medicamentos com a alegação de que não
tinham indicação para minha patologia. Hahaha... Como assim? Não tem indicação?
Oi? Onde os médicos da SulAmérica estão fazendo esses estudos? Nem acreditei
direito, parece absurdo, e é. Passei um dia inteiro na Defensoria Pública, foi
cansativo, tive total apoio e auxílio dos meus primos advogados e graças a Deus
deu tudo certo.
Agora vamos esperar as químios
acabarem, seguir para rádio (que depende da avaliação do radioterapeuta ainda,
pois não se pode fazer rádio no mesmo local duas vezes) e tratamento hormonal
com o tamoxifeno. Fiz um PET-CT (corpo zerado, amém!), outra biópsia guiada
(mamotomia) por ressonância na mama esquerda (temos que continuar de olho nela
também), ecografias e tomografias.
E assim a vida segue, ela não
pode parar. Vamos apenas incluir o tratamento na vida diária e seguir em
frente. Os planos e sonhos continuam e estou correndo atrás deles. Sou muito
grata a Vida pelos ensinamentos diários, a Deus por me permitir vivê-la e estar
aprendendo. Sou grata ao meu maridinho lindo que está sempre ao meu lado em
todos os momentos (meu amor, meu cúmplice, meu parceiro, que a cada dia que
passa fico mais apaixonada e mais feliz ao seu lado), a minha família – meu
pai, minha mãe (minha companheira de todas as horas) meus irmãos, que se desdobram para me auxiliarem, me apoiarem e me
deixarem tranqüila – as minhas tias, tios, primas e primos que não medem
esforços para me verem feliz e curada, toda hora demonstrando apoio e carinho –
minha vovozinha sempre cuidadosa e preocupada – e as minhas amigas e amigos,
que são poucos, mas verdadeiros.
Eu e maridinho estamos morando
”na roça” e foi a melhor coisa que fizemos neste momento (apesar de eu ter
feito a primeira químio numa quinta-feira e mudado num sábado -
#nãorecomendo#éloucuratotal). Aqui encontro a paz que preciso para me
recuperar. Da primeira vez, quando eu queria fugir, fugia pra cá. Agora eu moro
aqui! Piso na grama, olho pro céu, olho pro verde, abraço uma árvore, corro e
brinco com meus cinco cachorros (ás vezes sete cachorros, quando meus sobrinhos
de quatro patas vêm nos visitar), acordo vendo araras e tucanos passando pela
minha janela, sinto o cheiro do mato molhado pela chuva, sinto o cheiro da
tranqüilidade, da paz e da saúde.